Novos "olhares" à luz da Ciência Política


No dia 3 de junho de 2016, estudantes e educadores dos segmentos do Ensino Médio e Fundamental 2 do Colégio Marupiara tiveram a oportunidade de aprofundar seus olhares acerca da crise política que vigora no Brasil, principalmente em torno dos processos que levaram à instauração do impedimento da Presidenta da República e representante máxima do Poder Executivo, bem como da crise de representatividade que acomete o Poder Legislativo há algum tempo. 

Organizada pelos Delegados Estudantis do Colégio Marupiara – Rafaela Passeri de Medeiros, Pedro Henrique Almeida Megale e Victor Pugliesi Pereira - a apresentação contou com a presença dos Professores Armando Tachibana (Diretor do Colégio Marupiara) e Sebastião Soares (Filosofia, História e Sociologia). 

Essa ação foi uma continuidade de um processo que se iniciou com a presença do estudante de Direito da Faculdade São Francisco da USP, e ex-aluno do Colégio Marupiara, Gabriel Sales, oferecendo uma exposição a estudantes de todas as turmas do Ensino Médio sobre os aspectos jurídicos que envolvem um processo de “impeachment” de um chefe do Executivo, bem como as possíveis interpretações das leis e das ações que regem a gestão pública e que justificam o afastamento da presidenta e a formação de novo governo interino. Sales ressaltou o caráter também político desse processo, lembrando de que o Direito é interpretável, e não uma ciência pétrea.

Neste segundo momento, nosso objetivo foi realizar aprofundamentos teóricos e conceituais que não se verificam nos veículos de comunicação de massa atualmente. Entendemos que nossos estudantes e educadores devem estar atentos aos acontecimentos do mundo político com olhares que vão além das opiniões subjetivas e das imposições unilaterais de grupos de interesse e de poder hegemônico.

Assim, o Professor Armando Tachibana abordou, na abertura da discussão, dois aspectos importantes que formam e determinam, histórica e culturalmente, nossa sociedade e nosso olhar para o mundo político: a baixa colocação do Brasil (58º posição de 76 países) no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) bem como a também não satisfatória colocação do Brasil no índice de liberdade de imprensa segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras (111º de 175 países), ambas em 2015. Foi ressaltada a importância, portanto, de se levar em conta a grande dificuldade que nossa sociedade enfrenta diante dos altos níveis de analfabetismo funcional e da concentração dos grandes veículos de informação sob a propriedade e comando de poucas famílias historicamente detentoras de poderes econômicos e políticos no Brasil.


Em continuidade, o Professor Sebastião Soares apresentou alguns conceitos próprios do arcabouço teórico da Ciência Política, disciplina especializada em análises das causas e os desdobramentos políticos de uma sociedade. Segundo o Professor, os especialistas dessa disciplina são pouco chamados e ouvidos nas discussões públicas acerca da crise política que vigora. Assim, buscamos construir uma análise baseada na cientificidade analítica do mundo político, evitando noções de senso comum, de partidarismos e de discursos inflamados ideologicamente, sem ou com pouquíssimo embasamento teórico.

Os conceitos trabalhados foram: poder, governo, governabilidade, governança, democracia representativa, democracia participativa, a virtú (competência) e a fortuna (sorte) como condições que um “príncipe” (governante) deve ter para o exercício do poder segundo o filósofo político Nicolau Maquiavel (1469–1527) e o conceito de hegemonia, segundo a obra do pensador italiano Antonio Gramsci (1891–1937), o qual nos ensina que, nos Estados modernos, a manutenção de um poder depende e se efetiva com a contribuição (e permissão) das organizações formadoras de opinião (empresas jornalísticas, instituições religiosas, escolas etc.).


Essa exposição permitiu aos estudantes e educadores observar aspectos do “jogo político” de uma forma mais interna, levando à compreensão de elementos que vão além daqueles apresentados de forma superficial e, muitas vezes, levianas, por diversos veículos de informação atualmente. 

O que um governante deve fazer para manter-se no poder? Qual o papel de cidadãos num regime democrático saudável? Por que a democracia representativa encontra-se em crise atualmente? Por que a maior parte dos cidadãos não se interessa por questões políticas? Qual o papel e a relevância das organizações formadoras de opinião na estabilidade política de uma sociedade? 

Essas e outras questões foram levantadas durante a exposição. Esperamos que elas tenham engendrado momentos de reflexão e de vontade investigativa que permitam a pesquisa, o cuidado e o aprofundamento na formulação das respostas. Entendemos, da mesma forma que os gregos antigos inventores da democracia, que a πολιτικός (politikos) deve ser tratada com o respeito e a significação que ela merece. Acreditamos que o poder político, conforme nos ensinaram os pensadores iluministas inventores da contemporaneidade, está nas mãos dos cidadãos em seu conjunto, em sua diversidade: cidadãos do presente e do futuro.

Outras ações de aprofundamento de estudos sobre a crise política no Brasil acontecerão ainda neste semestre.

De Prof. Sebastião Soares
Para o Marupiara.Net

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